Ola ... que hoje seja dia de escrita, que seja dia de contar a alguem aquilo que penso e um pouco daquilo que sou.
Não sou santo dos que fazem milagres mas nunca desejei mal a ninguém, nao sou diabo nem demonio ainda que ja me tenham dito que olho de olhar felino, que sou pesado e profundo, escuro de sorriso brilhante, que faço rir e chorar quando rio e quando choro.
Sou eu, homem de mar, nascido em lagos de belas praias, suave sol, de temperamentos calmos ainda que tenha em mim de calma apenas o aspecto. Sou, sempre fui e hei-de ser tipo ingenuo, acredito na bondade humana sem no entanto ter esperança nesta raça que se mata e maltrata à minima oportunidade.
Tambem acredito no amor a primeira vista, ou a segunda ou a terceira... hei-de ser sempre alguem que gosta de alguem, ou de alguma coisa, ou de algum lugar... tudo o que vejo tem ponto de beleza e crueldade, pois o que é belo é cruel e nao ha nada que se possa fazer àcerca disso.
Vivi em varios sitios, e dei por mim no regresso ao sul, à origem das minhas tristezas e origem do meu ser. Pois se sou em algum lugar é aqui que o sou e tenho nesta praia que é de luz enterradas palavras negras e declaraçoes de amor.
(...)
Aprendi que se vivia e crescia quando se lia um bom livro, que ha musicas que dizem aquilo que queremos dizer sem que antes soubessemos disso. Aprendi que o grito de um pai doi mais que a dor fisica e que um sorriso cura o pior dos males. Aprendi o doce da vitoria e o amargo da derrota.
Lisboa... cidade grande de grandes males e absolutos amores... Aqui aprendi que escrever também cura, e que escrever maltrata, faz esquecer, e que escrever somos nós quando nos esquecemos dos outros. Vi coisas que nos tornam miseravelmente poderosos, e o medo que isso me mete.
Em Lisboa cresci e fiz-me homem sem que tenha deixado de ser miudo, enganei e fui enganado, lutei pela vida e por ela fui vencido. Lisboa maltratou-me... deu-me cicatrizes que nunca hao-de desaparecer e por isso lhe agradeço. Muito do que sei aprendi nessa cidade de cantos escuros e sorrisos luminosos, que me deu bons amigos e me mostrou que afinal somos pequenos por maior que nos possamos sentir.
É dificil explicar aquilo que nos faz crescer... o porque somos aquilo que somos... o porque consigo ficar horas observando as pessoas que passam com o gozo genuino de quem tivesse vivido toda a vida sózinho. É porque as pessoas sao únicas, e vivo entusiasmado pois o único é possivel... existe uma pessoa unica, um momento unico, aquilo que acontece uma vez e não se repete. e eu gosto disso.
E eu gosto de muitas coisas... como café com leite quente numa tarde ventosa de inverno, dum bom vinho tinto acompanhado de uns petiscos e de boa conversa com bons amigos, de chegar a casa molhado da chuva fria e tomar um bom duche quente, da gargalhada genuína de um triste alguém quando se esquece do porquê graças a nós, do arrepio quando se ouve AQUELA musica, da satisfaçao quando se entrega AQUELE trabalho, do calor quando se beija AQUELA pessoa, do saber que se está bem quando se está bem e de quando é alguém que nos faz sentir isso, mesmo que não saiba, porque isso não importa.
E porque o mundo não é apenas aquilo que temos perto tambem viajei... E em todo o lado temos bom e temos mau. nisso nada muda. Aí aprendi que gostava de viajar, de estar onde nunca tinha estado, de conhecer quem nunca voltarei a ver senao naqueles 2 dias que dura a estadia numa cidade qualquer a 3000 kilometros de casa. E mesmo ai passei horas a ver as pessoas passar, porque se mantêm únicas e que os sítios são únicos e que os momentos são únicos. E ganhei memórias e lembranças que hei-de guardar sempre, por onde quer que passe.
Mas também aprendi que a maior das viagens é aquela que é feita dentro de nós e que o tempo que mais custa a passar é aquele em pensamento, que 1.000 kilometros sao muitos kilometros mas que isso nao me assusta, que 500 metros podem custar muito mais a passar se o peso dentro de nós for maior do que aquele que carregamos em malas e mochilas. Agora sei que o pôr do sol também é bonito em florença e numa baía em dubrovnic, no sul da croácia, e que se podem fazer amigos que falam linguas diferentes e viajam por caminhos diferentes. E que a vida é curta e passa rápido se estivermos de olhos fechados...
Mas como o nosso mundo é pequeno mas é nosso também vi que é bom voltar.
E também sei que voltava a partir, e que há razões que me impediriam de voltar, que nada é absoluto e nós não somos nada senão o instante em que existimos e coexistimos com tudo pelo que passámos.
E hoje o que sei? Sei que o tempo passa e não perdoa, que por mais dúvidas que tenhamos tido elas não desaparecem, apenas nos habituamos à sua presença e que por um lado isso é bom e por outro nem tanto. Sei que gosto de sexo mas que afinal não basta isso para me pôr um sorriso na cara, que a tristeza que causo entristece-me e que por mais que saiba por onde ir há sempre outros caminhos que me chamam.
Hoje sei que ainda existem músicas que dizem aquilo que quero dizer sem que antes soubesse disso, que consigo sentir-me próximo de alguém que está longe e que tenho próximo quem me julga ausente...
Sei que existem coisas negras e que habitam em mim terrores e dissabores, mas que fujo deles como da morte pois o belo existe e tem de continuar a existir.
Sei que há caras e corpos que nunca hei-de conhecer mas que também há tempo para tudo, desde que não o deixemos passar. Que não posso ser tudo o que sonhei, que ser eu próprio já é ser Ulisses e David e todos os heróis passados e futuros, e que mesmo sabendo isso o sonho perdura e há-de-se-me manter presente até ao dia em que o sonho pára e esmorece, e que nesse dia estarei morto e enterrado.
Hoje sei não espero nada de ninguém senão aquilo que me quizerem dar. Sei que um beijo ainda pode ser novidade e que o sexo pode ter sentimento mesmo por alguém de quem pouco se conheça. Sei que ainda consigo sorrir apenas por ouvir uma voz que me chama ao telefone para me dizer aquilo que lhe passa pela cabeça, e eu quero ouvir aquilo que têm para me dizer, seja bom ou mau, mas que o bom saber-me-á bem melhor que outra coisa qualquer...
Sei que quero fazer a minha vida tranquilamente, com todas as coisas de que gosto, e que se houver alguém com algo para me dar também hei-de ter algo a oferecer enquanto isso valer a pena, e que depois disso o mundo é grande e há espaço para todos.
manuel zeeman
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"... tudo o que vejo tem ponto de beleza e crueldade, pois o que é belo é cruel e nao ha nada que se possa fazer àcerca disso." "all i see has beauty and cruelty in it, for all that is beautyfull is also cruel an there's nothing you can do about it."
Monday, April 21, 2008
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2 comments:
Gostei...Muito.
Muito bom...
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